No contexto da sociedade contemporânea, Pondé faz uma análise crítica da forma como o pensamento humano tem se desenvolvido ao longo do tempo, classificando a sociedade atual como “ridícula”. Ele argumenta que, embora a vida tenha se tornado mais fácil em muitos aspectos, as pessoas pensam menos do que nas décadas ou séculos passados. Segundo Pondé, o mundo moderno automatizou o pensamento, fazendo com que os indivíduos se afastassem de uma reflexão mais profunda sobre as questões da vida.

Historicamente, as pessoas sempre tiveram um pensamento superficial, uma vez que as necessidades da vida exigiam ações imediatas. As condições de vida mais duras de outras épocas forçaram uma reflexão prática e urgente. No entanto, com a modernização e as facilidades da vida, surgiram novos dilemas. Pondé utiliza a metáfora da “metafísica do banheiro” para ilustrar o quanto as pessoas, em tempos de conforto, se dedicam a discussões triviais, enquanto questões mais profundas continuam sendo negligenciadas. Ele ressalta que se o esgoto não fosse uma realidade, ninguém se preocuparia com a filosofia que o envolve.

A proposta central de Pondé é a de “pensar com a própria cabeça”. Esse pensamento crítico, segundo ele, não está restrito a um filósofo profissional, mas deve ser acessível a todos. O autor defende que, ao se apropriar de certos repertórios filosóficos da tradição, as pessoas podem começar a questionar os valores impostos pela sociedade. Pondé incentiva os indivíduos a terem coragem para questionar não só o que os outros esperam deles, mas também a validade de conceitos modernos como o “pensar fora da caixa” e o “capitalismo consciente”, que muitas vezes são discursos vazios, disfarçados de soluções para problemas profundos.

Esse tipo de reflexão exige coragem. A proposta de Pondé é que, ao se apropriar de repertórios filosóficos, qualquer pessoa pode ser capaz de romper com o desejo de conforto e tranquilidade que a sociedade busca impor. O filósofo sugere que, ao adotar esse tipo de pensamento, podemos nos libertar das normas estabelecidas e questionar de forma mais autêntica a realidade ao nosso redor.

Portanto, pensar com a própria cabeça, conforme Pondé, não é apenas um exercício intelectual, mas um ato de coragem. É um convite para refletir criticamente sobre as ideias que nos são oferecidas e sobre os valores que governam nossas vidas, buscando um entendimento mais profundo e autêntico da sociedade. Em um mundo cada vez mais automatizado, onde o pensamento se torna mecânico e conformista, Pondé nos lembra da importância de questionar, refletir e, acima de tudo, pensar por nós mesmos.

Texto baseado na entrevista de Luiz Felipe Pondé no Programa Epígrafes com Ricardo Mituti

Veja a entrevista:

 

Luiz Felipe Pondé, possui graduação em Filosofia Pura pela Universidade de São Paulo (1990), mestrado em História da Filosofia Contemporânea pela Universidade de São Paulo (1993), DEA em Filosofia Contemporânea – Universite de Paris VIII (1995), doutorado em Filosofia Moderna pela Universidade de São Paulo (1997) e pós-doutorado (2000) em Epistemologia pela University of Tel Aviv.

Atualmente é professor assistente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor titular da Fundação Armando Álvares Penteado.