O cenário político do Brasil parece uma novela, cheia de reviravoltas, dramas, traições, alianças improváveis e uma constante ansiedade. O povo assiste, muitas vezes, como se fosse incapaz de influenciar, sem perceber o seu papel crucial na sustentação dessa desestrutura e desequilíbrio da máquina pública.

É claro que o Brasil não enfrenta agora, e nunca enfrentou, apenas esses problemas políticos. Desde a fundação da República, vimos acontecimentos absurdos, sempre com a mesma promessa: a de que um salvador da pátria surgiria. Sempre há alguém dizendo que vai salvar o país, salvar o povo, melhorar a vida do brasileiro. Mas isso nunca aconteceu.

O que de fato ocorre é que o brasileiro gosta de ter seu “ditador de estimação”. Esse ditador pode ser um prefeito, um deputado, um presidente ou até um juiz, alguém da máquina pública que, de alguma forma, toma decisões que parecem estar em consonância com o que a população acredita ser o correto. Mas, na realidade, todos nós estamos enganados. Esses indivíduos não tomam decisões para o bem-estar do povo, mas para a manutenção do próprio poder.

O brasileiro age de maneira emocional, muitas vezes sem raciocínio crítico. Mesmo apanhando diariamente da máquina estatal, ainda acredita que aqueles que estão no poder farão algo positivo. Esse comportamento pode ser fruto de ignorância, ingenuidade ou pura má-fé. Mas o fato é que o povo, muitas vezes, corrobora com essa desestrutura social. Quando você apoia um indivíduo ou um agente do Estado que age de maneira escusa, tomando decisões unilaterais ou usando subterfúgios da lei, você está alimentando o próprio ditador. Na esperança ingênua de que ele fará o que você deseja, você, na verdade, está sendo usado.

No momento em que você for calado, perseguido ou limitado, e desejar tomar uma atitude, será tarde demais. O poder que foi tomado não volta para a “caixinha”, o espaço tomado não é devolvido, e a palavra silenciada se perde. O brasileiro tem um comportamento curioso em relação ao poder: todo mundo que ganha um pouco, seja no setor privado ou público, acredita estar em uma casta diferenciada, melhor que os outros. E começa a pensar como isso pode beneficiá-lo. O poder deixa de ser para o bem comum e passa a ser usado para interesses próprios, de amigos e aliados, e até para agradar inimigos.

E a lei? No Brasil, virou uma piada. Uma massinha de modelar que toma a forma de acordo com a necessidade de quem detém o poder. Ao longo da história republicana do Brasil, ficou claro que não importa o que foi feito, mas sim quem fez. Não importa o crime, mas sim quem o cometeu. Dependendo de quem for, será punido ou será solto.

Essa lógica de “farinha pouca, meu pirão primeiro” permeia a sociedade brasileira. Quando o poder está em jogo, a prioridade é sempre o próprio benefício. “Aos meus amigos, tudo; aos meus inimigos, a lei” é a mentalidade que prevalece. Quem está no poder só pensa em seus próprios interesses, e quando favorece a quem se alinha, tudo bem, mas quando o oposto acontece, a máscara cai e a verdadeira face do poder é revelada. Essa é a lógica egoísta que corrói as bases da nossa democracia e transforma a política em um jogo de favores pessoais.

Por isso, muito cuidado ao adotar seu ditador de estimação, ao aplaudir agentes públicos e suas ações. Quando você defende que alguém tem o poder, a caneta, ou a capacidade de fazer o que quer, é provável que esteja agindo de forma ingênua. Essa pessoa não age pensando no bem-estar da sociedade, mas no seu próprio. E quando a situação se inverter, quando o poder que você apoiou for contra o que você pensa, você verá a verdadeira face dessa máquina de poder.

Isso nos leva a uma reflexão profunda: o que você faz, no micro, reflete no macro. O comportamento que você tem com o pouco de poder que possui, seja nas pequenas decisões do dia a dia ou em cargos que você ocupa, é um reflexo direto do que a sociedade, como um todo, vive. O que você faz com o seu poder pessoal, seja na sua casa, no trabalho ou com as pessoas à sua volta, é uma projeção do que acontece no país. E ao adotar pequenos ditadores, ao apoiar quem age apenas para seu benefício, todos pagaremos o preço. Porque, no fundo, todos nós alimentamos esse sistema.

Reflita: você realmente acredita que esses indivíduos com poder nas mãos, com canetas, paletós e promessas, estão preocupados com o seu futuro? Eles pensam realmente no bem-estar da nação, ou no futuro de seus próprios planos, de seus grupos e de suas ideias? Tome cuidado. O que você faz, mesmo nas menores esferas, reflete o que acontece em nossa sociedade como um todo. A nossa falta de reflexão e consciência sobre isso tem alimentado, por séculos, esse ciclo vicioso de ditadores, de promessas vazias e de um Brasil que continua a se perder.