Nos últimos tempos, cresce o número de pessoas que se afastam das igrejas, não por falta de fé, mas por desgosto com a forma como a religião tem sido usada. Muitos templos se transformaram em negócios lucrativos, onde o púlpito virou palco e o evangelho, um produto. O versículo de Oséias 4:6 — “O meu povo perece por falta de conhecimento” — expressa bem essa realidade. A ignorância bíblica tem permitido que líderes religiosos manipulem a fé e o medo das pessoas para enriquecer, distorcendo a palavra de Deus e transformando a devoção em dependência emocional e financeira.

Hoje, o dízimo e as ofertas, que deveriam ser gestos livres de gratidão, são cobrados como obrigações divinas. Famílias inteiras se endividam acreditando que, ao “plantar sementes de fé”, receberão bênçãos materiais. Enquanto isso, pastores exibem carros importados, mansões e viagens internacionais, sustentados pelo sacrifício de quem mal tem o que comer. O discurso é sempre o mesmo: “Quem não dá, não recebe”. Essa chantagem espiritual cria uma fé baseada no medo — o medo de ser punido por Deus, o medo de não prosperar, o medo de ser esquecido.

O uso do medo e da culpa como forma de controle é uma das mais cruéis distorções da fé cristã. Muitos líderes afirmam que doenças, falências ou desgraças são sinais da falta de fidelidade ao “altar”. Essa pregação não liberta; aprisiona. O fiel passa a viver em constante angústia, acreditando que seu valor diante de Deus está atrelado ao quanto ele entrega ao pastor. Jesus, no entanto, nunca exigiu riquezas de ninguém. Ele dizia: “De graça recebestes, de graça dai” (Mateus 10:8). Sua mensagem era de amor e partilha, jamais de cobrança.

O próprio Cristo se revoltou contra o comércio da fé. Em Mateus 21:12, expulsou os vendilhões do templo, dizendo: “A minha casa será chamada casa de oração, mas vós a transformais em covil de ladrões.” Hoje, a cena se repete com templos transformados em empresas, onde a salvação é vendida em suaves prestações e o nome de Deus é usado como escudo para a ganância. A fé genuína dá lugar à superstição, e o amor ao próximo é substituído por campanhas milionárias que enriquecem poucos e exploram muitos.

A fé verdadeira não nasce do medo nem da culpa, mas do conhecimento e da liberdade. Jesus nunca pregou submissão cega, e sim discernimento. A religião deve aproximar as pessoas de Deus, não afastá-las por vergonha ou cansaço. O povo perece porque não conhece a verdade da palavra, mas há esperança: o despertar espiritual vem quando cada um decide buscar a Deus diretamente, sem intermediários que cobram por bênçãos. A fé que liberta é aquela que questiona, que lê, que entende — e que reconhece que Deus não vende milagres, apenas oferece amor.