
O recente caso envolvendo a “adultização” das crianças, exposto pelo influenciador Felca, e a subsequente resposta do governo com a proposta da chamada “Lei Felca”, revela não apenas uma questão sobre a proteção infantil, mas uma reflexão mais profunda sobre o papel dos pais na educação e a crescente terceirização dessa responsabilidade para o Estado. O vídeo de Felca, ao denunciar a exploração das crianças nas redes sociais, expôs a urgência do problema, mas também colocou em evidência uma realidade desconfortável: a incapacidade de muitos pais de assumirem o controle sobre a educação e formação de seus filhos. A busca por uma solução imediata, por meio de leis e intervenções governamentais, apenas camufla a verdadeira questão: a falência do protagonismo parental.
A “adultização”, como conceito, descreve o processo pelo qual crianças são expostas a conteúdos e comportamentos típicos de adultos, sem a devida proteção ou compreensão de suas implicações. No caso mencionado, a exposição precoce de crianças a influenciadores digitais é um exemplo claro dessa realidade, onde a busca por audiência se sobrepõe à proteção da infância. A reação do governo, por meio de propostas de regulamentação como a “Lei Felca”, embora seja uma tentativa legítima de proteger as crianças, reflete uma atitude passiva e reativa diante de um problema que deveria ser tratado de maneira preventiva pela sociedade, em primeiro lugar pelos próprios pais.
O ponto crucial que precisa ser abordado é a responsabilidade dos pais. A crescente terceirização da educação das crianças é um fenômeno alarmante. Em vez de se envolver ativamente na formação moral, ética e emocional dos filhos, muitos pais têm delegado essas funções ao sistema educacional, às redes sociais ou, como agora se vê, ao próprio Estado. A razão disso não está apenas na falta de tempo ou na correria do cotidiano, mas em uma incapacidade visceral de assumir a responsabilidade pela criação dos próprios filhos. Há uma tendência crescente de enxergar a educação como uma tarefa exclusiva da escola ou de terceiros, ignorando o fato de que a primeira e mais importante escola para uma criança é o lar.
No entanto, essa delegação da educação para o Estado não é uma solução, mas uma armadilha. O governo, ao assumir um papel cada vez mais presente na regulamentação da vida familiar, está nos conduzindo para uma sociedade em que a intervenção estatal se torna cada vez mais intrusiva. O controle sobre o que as crianças veem, aprendem e consomem passa a ser um reflexo de uma sociedade que se vê incapaz de educar seus filhos de forma autônoma e responsável. Quando o Estado assume o controle da formação das novas gerações, a liberdade individual e a autonomia dos cidadãos são ameaçadas. Afinal, se o Estado educa, quem são realmente os pais e de quem são, de fato, os filhos?
Essa transferência da responsabilidade para o governo é, na realidade, uma forma de esvaziamento do papel dos pais, que se tornam meros espectadores na vida de seus filhos. A educação dos filhos não pode ser terceirizada a instituições ou ao Estado sem perder a essência daquilo que significa ser um pai ou uma mãe. Ao delegar à legislação e à intervenção governamental a responsabilidade de proteger as crianças, muitos pais deixam de lado seu papel primordial: o de ser os primeiros a cuidar, a orientar, a educar e a proteger seus filhos. Eles abandonam o terreno mais fundamental e íntimo da parentalidade: a formação do caráter e a construção de valores sólidos. Se os pais não educam seus filhos, se a educação é terceirizada para escolas ou, mais perigosamente, para o Estado, então podemos nos perguntar: os filhos realmente pertencem aos pais ou pertencem à sociedade, regida pelas leis e decisões de terceiros?
O perigo de delegar esse poder ao Estado é que, ao dar a ele o controle sobre as questões mais íntimas e cruciais da formação de um indivíduo, abrimos as portas para um controle social cada vez mais forte e abrangente. A ideia de que o Estado deve garantir que as crianças cresçam em um ambiente seguro, sem a atuação direta dos pais, é uma forma disfarçada de enfraquecer a família como a unidade fundamental da sociedade. O papel do governo deve ser o de apoiar as famílias, não de substituí-las.
A criação de leis e regulamentações pode ser uma resposta paliativa, mas não pode substituir a responsabilidade e o engajamento dos pais na educação de seus filhos. O verdadeiro protagonismo da educação deve voltar ao lar, onde os pais devem ser os primeiros a ensinar, proteger e guiar suas crianças, estabelecendo uma base sólida para a formação de cidadãos críticos, éticos e autônomos.