Por Alain de Botton
Teoricamente, somos livres pra escolher o tipo de pessoas que amamos. Nós podemos escolher qualquer um pois não estamos sendo forçados a entrar em um relacionamento por convenções sociais, casamentos arranjados ou imperativos de dinastia. Mas na realidade, nossa escolha é menos livre do que imaginamos.
Algumas restrições muito reais sobre sobre quem podemos amar e nos atrair vem de um lugar no qual nós podemos não pensar em olhar: nossas infâncias. Nosso histórico psicológico nos predispõe fortemente a nos apaixonar apenas por certos tipos de pessoas.
Nós amamos segundo os caminhos formados na infância. Procuramos por pessoas que recriem os sentimentos de amor que conhecemos quando éramos pequenos. O problema é que o amor que recebemos na infância dificilmente é composto de generosidade, carinho e bondade.
Dada a forma como o mundo é, o amor tende a vir entranhado com certos aspectos dolorosos: um sentimento de não ser bom o suficiente; um amor por pais que eram frágeis ou deprimidos; a sensação de que não se pode ser totalmente vulnerável perto de um cuidador.
Isso nos predispõe a procurar na idade adulta por parceiros que não necessariamente serão gentis conosco mas que vão – mais importante – nos parecer familiares; o que pode ser sutil, mas é importantemente diferente.
Podemos ser levados a desviar o olhar de potenciais candidatos por que eles não satisfazem um anseio pelas complexidades que associamos ao amor. Podemos descrever alguém como “não sexy” ou “chato” quando na verdade, queremos dizer: “dificilmente vai me fazer sofrer do jeito que eu preciso para sentir que o amor é real”.
É comum aconselharmos pessoas que estão atraídas por candidatos complicados a simplesmente deixá-los e tentar encontrar alguém mais saudável. Isso é atraente na teoria mas impossível na prática.
Não podemos magicamente redirecionar o que nos atrai. Ao invés de buscar por uma transformação nos tipos de pessoas aos quais nos atraímos, pode ser mais sensato simplesmente ajustar como reagimos e nos comportamos ao redor das ocasionais características difíceis de quem nosso passado ordena que vamos achar atraentes.
Nossos problemas são frequentemente gerados por que continuamos a responder a pessoas atraentes da forma como aprendemos a nos comportar quando crianças ao redor desses modelos. Por exemplo, talvez nós tivemos pais raivosos que costumavam levantar a voz. Nós os amávamos e reagíamos sentindo que quando eles estavam com raiva, nós deveríamos nos sentir culpados. Ficamos tímidos e retraídos.
Agora, se um parceiro (alguém que estamos atraídos) fica irritado, respondemos como crianças intimidadas: nos entristecemos, sentimos que é nossa culpa, nos sentimos merecedores do criticismo, acumulamos um monte de ressentimento. Talvez, tenhamos nos atraído por alguém com pavio curto – o que nos faz estourar também. Ou, se tivemos um pai ou mãe vulnerável, que se machucava fácil, nós prontamente terminamos com um parceiro que também é um tanto fraco e exige tomemos conta dele; mas então, ficamos frustrados com a sua fraqueza – nós tentamos encorajá-lo e tranquilizá-lo (como fazíamos quando éramos pequenos) mas também condenamos essa pessoa por não ser merecedora.
Nós provavelmente não podemos mudar nossos modelos de atração. Mas ao invés de procurar reformular nossos instintos, o que podemos fazer é tentar aprender a reagir a candidatos atraentes não como fazíamos quando crianças, mas de formas mais maduras e construtivas como um adulto racional reagiria. Existe uma oportunidade enorme de mudarmos nossa resposta em relação às dificuldades às quais nos atraímos de um padrão infantil para um mais adulto.
Livre tradução da fonte original: The school of life – Why were compelled to love difficult people
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