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Uma das características mais lindas é a resiliência, a capacidade de suportar as maiores adversidades e utilizar aquilo que nos fere como instrumento para forjar o caráter, pegar o problema, encarar ele sem medo e, contra todas as probabilidades, melhorar enquanto indivíduo. O cinema abordou o tema de diversas maneiras, em variados gêneros. Eu selecionei seis títulos tentando abraçar esta pluralidade, evitando algumas opções óbvias. Veja e se emocione…
A Liberdade é Azul (Trois Couleurs: Bleu – 1993)
Após um trágico acidente em que morrem o marido e a filha de uma famosa modelo (Juliette Binoche), ela decide por renunciar à sua própria vida. Após uma tentativa fracassada de suicídio, ela volta a se interessar pela vida ao se envolver com uma obra inacabada de seu marido, que era um músico de fama internacional. É interessante que a perda do marido faz com que ela compreenda que depositava nele sua segurança pessoal e profissional, ela passa a se sentir vazia, desprovida de qualidades, sem função útil na sociedade. O processo do luto para ela é muito mais simbólico, já que ela precisa reaprender a andar psicologicamente, ela renasce em si mesma. O diretor Krzysztof Kieslowski realiza um dos melhores filmes da década de noventa.
Uma Janela para o Céu (The Other Side of The Mountain – 1975)
Baseado na história real de Jill Kinmont (Marilyn Hassett), que com dezoito anos de idade revela-se um enorme talento para o esqui, a aposta certa para vencer os Jogos Olímpicos de Inverno de 1956. Mas acontece uma fatalidade: Ela por pouco não perde a vida após uma queda brutal na neve, ficando paralisada do pescoço para baixo. O meu primeiro contato com a obra foi na infância, exibida na “Sessão da Tarde”, jamais esqueci seu impacto emocional. Prepare o lenço!
Viver (Ikiru – 1952)
Burocrata de longa data, que não liga para nada que não o interessa, descobre que está com câncer. Decide, então, construir um playground em seu bairro, tentando descobrir um sentido para sua vida. Fugindo da pieguice com que o tema poderia se inundar, Kurosawa insere toques de humor que nos fazem simpatizar mais ainda com o personagem central. Takashi Shimura e sua constante dor física e emocional transparecem em todas as cenas. As lágrimas brotam não por pena, mas sim por inveja da dignidade humana que ele exala até o último momento. É o melhor exemplo de morte honrada já transposta para o cinema. Somente quando descobriu que estava morrendo é que ele decidiu viver.
Jamaica Abaixo de Zero (Cool Runnings – 1993)
Em uma temperatura bastante baixa, Derice, Sanka, Junior e Yul são zombados por todos, pois ninguém imagina que um time de trenó da Jamaica comandado por um treinador desacreditado (John Candy) possa ser levado a sério nos Jogos de Inverno. Eles mesmos não se sentem preparados para a tarefa. O filme perfeito para mostrar aos seus filhos pequenos, uma experiência que exala alegria e que entrega um desfecho verdadeiramente lindo, em execução e simbologia.
À Procura da Felicidade (The Pursuit of Happyness – 2006)
Chris Gardner é um chefe e pai de família que enfrenta muitas dificuldades financeiras, vendendo aparelhos médicos que ninguém quer comprar por serem muito caros. Consegue uma vaga de estagiário numa importante corretora de ações, mas não recebe remuneração pelos serviços prestados, porém, acredita que poderá ser futuramente contratado. A mulher o abandona e ele é obrigado a tomar conta sozinho do filho de apenas cinco anos de idade. Muccino emula Frank Capra, encontrando em Will Smith o seu James Stewart perfeito, um homem que se recusa a aceitar a derrota.
A Mulher Faz o Homem (Mr. Smith Goes to Washington – 1939)
Inocente homem do interior (James Stewart) é convidado a se tornar senador dos Estados Unidos e aos poucos se descobre em um mar de lama que ameaça tudo o que ele acreditava em relação à bondade e ao caráter dos comandantes de seu país. Poucos filmes souberam retratar tão bem o esforço de um elemento individual íntegro em um covil de serpentes. O roteiro nos apresenta um símbolo das reais qualidades que deveriam ser comuns aos homens que ingressam na política, mas deixando clara a razão que impede que essas qualidades sejam valorizadas: o ser humano é ambicioso. Apenas as crianças, seres ainda não tocados pelo instinto predatório dos adultos, conseguem enxergar os méritos na aparente causa perdida do protagonista. No famoso e emocionante discurso final do personagem no julgamento, exaurido física e mentalmente após horas falando ininterruptamente, apenas seu caráter o mantinha de pé. Nunca me esqueço da breve tomada que mostra o tímido sorriso de encorajamento do juiz, mesmo sabendo das poucas chances do rapaz. O juiz sabe que todos deveriam ter aquela coragem, mas, muito mais que isto, ele enxerga naquele alquebrado homem o motivo principal que o fez adentrar outrora em sua profissão.