“Eu me pergunto se somos mais sábios que Aristóteles. Eu não sou, tenho certeza disso, mas e quanto aos outros? Não é muito claro. Winston, um grande biólogo, costumava falar que nós somos inundados por informações e famintos por sabedoria, e ele estava certo.

Quando eu era jovem, eu e a minha geração acreditávamos que o que nos impedia de resolver todas as questões do mundo era a ausência do conhecimento correto. Nós precisávamos de mais pesquisa, mais recursos para pesquisas, mais dados, mais informações. Agora, eu acredito que é ao contrário: o nosso principal obstáculo é o excesso de conhecimento. Todo dia a quantidade de nova informação produzida, de acordo com algumas estatísticas, é mil vezes maior do que a capacidade do cérebro humano de assimilá-la. Então, quando eu coloco uma pergunta no Google com uma informação sobre algo qualquer, eu recebo dúzias de bilhões de respostas. O que eu aprendi com o Google é que eu nunca saberei o que eu deveria saber.

Isso não necessariamente significa que eu sou mais sábio do que antes. Claro que eu tenho um acesso muito fácil à informação: eu não preciso ir até a biblioteca procurar por centenas de livros para encontrar aquela informação que eu estou procurando, pois tudo está ao alcance dos meus dedos. Isso significa que eu sou mais sábio? Eu não tenho certeza. Ao contrário, eu me sinto humilhado ao redor dos outros, não só por não ser mais sábio do que eu sou, mas também pela impossibilidade de adquirir a sabedoria que nos permite realmente, autoritariamente e responsavelmente responder à pergunta que está à nossa frente.

Felizmente, nós temos o Mark Zuckerberg com o Facebook, o Google e outras coisas que nos auxiliam com tranquilizantes, os quais tratam de doenças que sofremos como solidão, falta de conhecimento e outras. Nós podemos ter um substituto. O Google tem a maior biblioteca do mundo, mas não é a maior biblioteca de livros, e, sim, de trechos, de citações, de partes e pedaços desconectados.

Atualmente, nós podemos ter, muito rapidamente, cada pedaço desses trechos quando quisermos, mas, se isso nos dá uma maior capacidade de conhecimento, eu não sei. Eu não acredito que nós resolvemos as questões completamente, não só agora como também em épocas passadas. Gordon Allport uma vez disse que nós não resolvemos os problemas, nós só nos cansamos e os abandonamos. Esse é um lado da questão; o outro é que todas as respostas que somos capazes de dar são, até segunda ordem, destinadas a ser deixadas para trás pelo desenvolvimento do conhecimento, pois tudo é temporário.

O problema de poder adquirir o conhecimento completo de qualquer coisa é atenuado pelos serviços de tranquilizantes, porque o que nos é oferecido não é tarefa de conseguir a visão da totalidade, mas, sim, uma grande quantidade de notas de rodapé sobre o que estamos escrevendo. Se há duzentas notas de rodapé em um trabalho, pronto, é científico.”

Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas do trecho do vídeo: Observatório da Imprensa entrevista o sociólogo Zygmunt Bauman

Veja abaixo o trecho da entrevista:

Zygmunt Bauman é dos grandes pensadores da Modernidade, conhecido mundialmente por seu célebre conceito de ”liquidez”.

Bauman nasceu na Polônia e mora na Inglaterra desde 1971. Professor emérito das Universidades de Varsóvia e Leeds, tem mais de trinta livros publicados no Brasil.